HARPIA ... Do livro digital “Estoriêtas do Ele Gê”
Colaboração e autoria do Ir.'. Grijó - São Paulo SP
14/04/2014
 
 
A Receita Federal Brasileira deu ao seu novo computador o nome apropriado de harpia, uma ave de rapina existente na Europa. 
Isso me fez lembrar do ano de 1938, quando, há pouco tempo, eu tinha voltado de Portugal para o Brasil. 
Naquele tempo não havia televisão, e as famílias, para se distraírem à noite, faziam saraus onde se recitavam poesias, se cantava, e se tocavam instrumentos musicais, se liam trechos de livros, se conversava e se realizavam outras atividades lúdicas ou literárias. 
Nessa ocasião fui convidado para ir na casa de um capitão do Exercito Brasileiro, Arma de Infantaria, onde se realizavam sessões  para decifrar charadas, o “hobby” de sua família.
Eles tinham um caderno, herdado do avô do capitão, tendo anotadas muitas charadas, só que apenas os enunciados e sem as soluções. 
No decorrer dos anos a família e os seus amigos tinham decifrado as charadas menos uma. Essa que faltava decifrar era:
“Ora parado ora correndo (1), ninguém se chega a mim sem  ser cristão(2) – Sou mulher que a feio rosto, alia um péssimo coração”.
Era praxe apresentar a charada a qualquer pessoa que viesse pela primeira vez no sarau. Assim, a apresentaram a mim, e eu a decifrei:
Ora parado ora correndo (1) = ar
Ninguém se chega a mim sem ser cristão (2) = pia (batismal)
Logo = (h)arpia (o h inicial não soa em português).
O pessoal riu e falou que a palavra não existia. Mas o dicionário, o pai dos burros, o tira teimas, estava em cima da mesa. Fomos a ele e encontramos:
HARPIA (s.f.) Ave de rapina. (fig) Mulher feia e malvada.
O pessoal me olhou com respeito, imagine, há anos a charada não era decifrada. Mas não fiz nada demais, eu tinha vindo recentemente de Portugal onde a palavra era conhecida, enquanto no Brasil ela era desconhecida.
Mas com certeza, nos próximos anos, a palavra harpia vai ficar conhecida no Brasil, quando ela cravar as garras no couro do pobre contribuinte brasileiro que vai ser obrigado a pagar as roubalheiras e as leviandades do petralhas.

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