Nove pilares psicológicos de um bom casamento
Colaboração do Te. Cel. EURO - Rio de Janeiro RJ
04/03/2013


Recentemente, em 2012, a prestigiosa Associação  dos Psicólogos Americanos (American Psychological Association - APA), em colaboração com Judith Wallerstein, apresentou um resumo das nove tarefas psicológicas que contribuem para que um bom casamento (“Nine psychological tasks for a good marriage”)1. Esse resumo foi baseado no livro dessa autora: “The Good Marriage: How and Why Love Lasts” (Houghton Mifflin, 1995).
Vou apresentar aqui essas nove tarefas psicológicas e comentá-las brevemente. Embora eu não creia que a boa execução dessas tarefas seja suficiente para garantir que um casamento seja feliz e dê certo, sem dúvida, executá-las satisfatoriamente contribui para que isso aconteça.
Nove tarefas psicológicas que contribuem para um bom casamento
Aqui estão as nove tarefas apresentadas por esta autora e os meus comentários para cada uma delas
1- Separar –se emocionalmente da família que lhe criou. 
Isso deve acontecer não a ponto de estranhamento dos parentes, mas o suficiente para que sua identidade seja separada das dos seus pais e irmãos. Para se tornar um adulto independente é necessário separar a sua identidade psicológica da identidade dos pais e irmãos. O cônjuge de uma pessoa que não se tornou suficientemente independente das suas família de origem sente que tem menos influencia nos acontecimentos que dizem respeito ao casal do  que os parentes do seu cônjuge.
Claro que as ligações com as famílias de origem são bem vindas e saudáveis! Trata-se apenas de obter o grau de independência psicológica que possibilita a formação de uma nova unidade conjugal. O novo lar deve ser a prioridade.
2- “Construir a união baseada na intimidade compartilhada e na identidade conjugal e, ao mesmo tempo, que ofereça proteção à autonoçmia de cada parceiro”.
O compartilhamento da intimidade é a cola do relacionamento. Para que um casamento se concretize no plano psicológico é necessário que cada cônjuge comunique para o outro os seus sentimentos, ideias e planos. É claro que existem limites para isso. Nem tudo pode e deve ser revelado. Além disso, cada cônjuge deve ser honesto e pode e deve se posicionar sobre o que o outro está revelando. A unidade conjugal estará funcionando bem neste quesito quando há um bom grau de comunicação das intimidades mais significativas e há uma aceitação substancial pelo outro cônjuge daquilo que foi comunicado.
3- Estabelecer uma relação sexual rica e prazerosa protegê-la contra a invasão do local de trabalho e obrigações familiares.
Muitos casais reclamam que a vida sexual, que era intensa e prazerosa no inicia do relacionamento, acabou se enfraquecendo e se tornando rara devido ao cansaço e estresse produzidos pelo trabalho e pelos cuidados com os filhos. A relação entre o casal foi cedendo espaço para as obrigações do trabalho e para as ocupações com a família.
É natural que todo aquele tempo que o casal reservava para si no início do relacionamento vá cedendo espaço para outros afazeres à medida que o relacionamento amoroso vai se solidificando e outras funções vão sendo incorporadas e desempenhadas. Embora possa haver exageros em ambos os sentidos, o mais comum é que a vida do casal vá sendo cada vez mais sacrificada pelas atividades profissionais e pelos cuidados com a casa e os filhos. 
4- Para os casais com filhos é necessário saber assumir adequadamente os papéis assustadores da paternidade e absorver o impacto da entrada de um bebê no casamento e, ao mesmo tempo, proteger a privacidade do casal.
O nascimento de um filho é uma ocorrência que pode virar de pernas para o ar muitos aspectos do relacionamento conjugal. A criança toma uma boa parte do tempo do casal: hora das mamadas, troca de fraldas, choros, idas ao pediatra. Ela é um ser totalmente dependente e cheio de necessidades. Além disso, ficamos fascinados com o milagre da chegada daquele ser maravilhoso. Muitos pais se apaixonam pelo rebento e ficam dispostos e disponíveis a sacrificar qualquer coisa para acumulá-lo de cuidados. O tempo disponível para as atividades do casal é imediatamente sacrificado: os passeios, os jantares, as festas, as horas de conversar e namoro, aqueles encontros sexuais demorados. Em parte, tudo isso é inevitável e é bom que seja assim! No entanto, os exageros na dedicação aos filhos prejudicam a vida do casal e, em decorrência, a dos próprios filhos.
5- Enfrentar e dominar as crises inevitáveis da vida.
Todos os envolvidos em relacionamentos duradouros enfrentarão diversas crises em algumas ocasiões: perda do emprego, prejuízos econômicos, perda de parentes, doenças. O enfrentamento adequado dessas crises depende de três fatores: (1) magnitude da tensão e da irritação que elas produzem e que poderá provocar intolerâncias e brigas entre o casal, (2) qualidade da estrutura psicológica dos cônjuges e do casamento que pode contribuir para a superação ou agravamento da crise e (3) apoio psicológico do cônjuge para ajudar aquele que está enfrentando os problemas. A qualidade e quantidade de apoio que um cônjuge oferece para o outro que está enfrentando uma crise contribui muito para fortalecer ou enfraquecer o relacionamento (“Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...”).
6 - Manter a força do vínculo conjugal em face da adversidade. O casamento deve ser um porto seguro no qual os parceiros são capazes de expressar suas diferenças, raiva e conflito.
Em todo o relacionamento amoroso duradouro é natural que existam conflitos e diferenças crônicas. A expressão da raiva deve ser admitida neste tipo de relacionamento. O que provoca danos é a maneira de expressar a insatisfação e outros sentimentos negativos. John Gottman, famoso pesquisador e escritor dessa área, identificou quatro maneiras de tratar desacordos e irritações que podem provocar sérios danos ao relacionamento (“Quatro cavaleiros do apocalipse”): (1) criticismo: apresentar uma chuva de críticas.  Isso só serve para agredir e não para identificar e solucionar os problemas. (2) Desrespeito (atacar a personalidade do parceiro: você é preguiçoso, não confiável, incapaz, burro). (3) Defensividade: assim que o parceiro começa a apresentar uma reclamação, o outro começa a  pensar em como se defender ou contra-atacar o que está sendo apresentado e, não, em considerar se a reclamação é procedente e como atende-la e (4) indiferença: concluir que não vale a pena ouvir seriamente o parceiro e se posicionar sobre aquilo que ele está dizendo. (“Entrar por um ouvido e sair pelo outro”).
7- Usar o humor e o riso para manter as coisas em perspectiva e para evitar o tédio e isolamento.
Existem evidencias de que o humor é uma forma avançada e mais madura de proteger o eu. O humor também serve para abordar assuntos tensos ou perigosos sob um ângulo menos ameaçador: é uma maneira de diminuir a gravidade e tratar de assuntos que podem disparar agressividade entre o casal.
8- Nutrir e confortar um ao outro, satisfazendo as suas necessidades de dependência e ofertar encorajamento e apoio contínuo para aquele que estiver precisando.
Uma atitude extremamente valiosa que é muito nutritiva para qualquer tipo de relacionamento afetivo é a priorização da satisfação do parceiro acima de considerações como racionalidade da decisão, ganhos e perdas produzidos pela opção, opinião publica contraria ou favorável ao que está sendo decidido.
Claro que aquilo que cada parceiro deseja pode e deve ser discutido pelo outro. Mas, se o parceiro continuar mostrando que algo é importante para ele,  apesar de todas as considerações em contrário, esse sentimento deve ser o critério mais importante para o outro parceiro decidir apoiá-lo.  Por exemplo, um dos parceiros quer fazer uma reforma da casa. O outro quer aplicar o dinheiro. Ambos conversam sobre essa decisão e como o casal não vai ficar em risco com o gasto com a reforma, aquele que queria fazer a aplicação muito lucrativa concorda que melhor que o lucro é a satisfação que o parceiro vai ter com a reforma.
Devemos partir do principio que apoiar aquilo que é importante para o parceiro não vai produzir nenhum absurdo, porque ele é uma pessoa razoável e dotada de bons sentimentos. Caso não seja possível pensar assim a seu respeito, deve-se considerar, então, se o relacionamento com ele vale a pena.
9- Manter vivas as primeiras imagens românticas enquanto enfrenta as realidades sóbrias das mudanças provocadas pelo tempo.
Um estudo mostrou que aqueles casais que têm boas recordações sobre suas historias românticas são mais felizes do que os casais que não conseguem ter boas recordações sobre os inícios de seus relacionamentos. Aqueles casais que estão infelizes tendem a reformular suas historias ou a relembrar mais dos fatos ruins. Terapeutas podem ajudar os casais a desenvolver uma versão das suas vidas que seja positiva e bonita. Uma das maneiras de iniciar esse trabalho é convidar cada cônjuge para elaborar a historia do seu relacionamento sob um ângulo positivo, como se essa historia fosse o roteiro de um filme romântico e bonito.


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