Do livro digital Estorietas do Ele Gê
Isso foi há muito tempo, mas numa das ruas do centro da cidade do Recife existia uma loja de tecidos conhecida como a “Loja do Turco Salim”. O Salim era libanês, e aqui cabe um esclarecimento: antes da Primeira Guerra Mundial o Império Turco se estendia pela Armênia, pela Arábia e por outros territórios. Assim, os armênios, os sírios e os libaneses que vinham para o Brasil aqui desembarcavam com passaporte turco. Eles não gostavam de ser chamados de turcos, mas os brasileiros, com aquela pontinha de maldade que todos carregamos dentro de nós, se compraziam em assim chama-los.
Na mesma rua e na primeira esquina existia um “castelo”. Era o “castelo” da “mãe” Mariquinhas, um dos mais afamados então existentes no Recife.
Certo dia a “mãe” Mariquinhas foi na loja do Salim comprar tecidos para fazer roupas para as suas “raparigas”. Depois de acirrada barganha, em que os dois se revelaram extremamente hábeis, acabaram se acertando quanto aos tecidos e aos preços. O Salim separou a mercadoria para ser enviada ao “castelo”, e a Mariquinhas pagou o preço acertado.
Antes de ir embora, falou a Mariquinhas: “Seu Salim, o senhor nunca foi na minha casa, o senhor vai lá, o senhor vai gostar”.
- “Salim non vai”.
- “Ora essa, seu Salim! E porque não”?
- “Non fazer tudo que Salim quer”
- “Não fale assim seu Salim que até me ofende! Todo o mundo sabe que eu tenho as melhores raparigas do Recife. O senhor vai lá, vai ter tudo o que quiser”.
- “Se signora pbromete fazer tudo que Salim quer, Salim vai”.
- “É claro que eu prometo. Quando o senhor vai”?
- “Hoje, depois que fecha loja. Mas lembrar que signora pbrometeu”.
- “Não se aperreie, home!. O senhor vai ver que eu prometo e cumpro. E até já”.
A Mariquinhas chegou no castelo e chamou a Lola, a sua rapariga mais escolada e falou :
- “ O Salim da loja de tecidos vem hoje aqui, eu quero que você o atenda, e muito bem. Tudo o que ele quiser. Se ele pedir o botão, você dá”.
- “Pode deixar mãiinha. A mãiinha me conhece!”.
O Salim chegou no castelo ao anoitecer, logo se enfiou num quarto com a Lola, e mandou ver. Quatro horas depois eles saíram do quarto, a moça visivelmente cansada e o Salim meio murcho.
A Mariquinhas foi ao encontro do Salim, toda alegre, e falou:
- “E aí seu Salim? O senhor gostou?”.
- “Bom!. Salim gostar!. Mas ainda falta”.
- “Arre égua, seu Salim! Quatro horas no quarto com a rapariga, e ainda falta? . Mas diga lá, seu Salim, o que é que falta?”.
- “Signora pbrometeu tudo que Salim quer. E Salim quer non pbagar”.