Série Corporativa: Hotel em favela pacificada do Rio atrai clientes do mundo inteiro.
Empresários investiram R$ 25 mil para construir sobrado de três quartos. Sebrae criou programa de empreendedorismo para comunidade pacificada.
23/09/2012
O turismo no Rio de Janeiro está se renovando e aposta em iniciativas diferenciadas com o apoio de um programa de desenvolvimento de empresas em comunidades pacificadas. Um dos exemplos é um hotel instalado em plena favela carioca – que já hospeda visitantes do mundo inteiro.

A favela do Chapéu da Mangueira, encravada entre o morro e os edifícios da orla, já foi palco da guerra urbana carioca, mas hoje experimenta uma nova realidade. Desde que o lugar foi pacificado, o medo cedeu lugar ao espírito empreendedor da comunidade.

Vitor Hugo Medina e Cristiane de Oliveira nasceram e cresceram no Chapéu da Mangueira e foi nesse cenário que enxergaram uma oportunidade de ganhar dinheiro com o turismo. Os empresários montaram um pequeno hotel bem no meio da favela.

“Os melhores hotéis são nos melhores pontos, ai que a gente pensou: Vamos fazer uma coisa diferente, vamos construir um hostel dentro da comunidade para a gente não vender luxo nem beleza, vender uma experiência diferente para o turista”, diz Medina.

Para ganhar dinheiro, no entanto, era preciso aprender a gerir o próprio negócio. Foi então que a dupla recorreu ao programa de desenvolvimento de empreendedores em comunidades pacificadas, do Sebrae.

“O objetivo é fazer com que, por essa via do empreendedorismo, a favela se integre mais com a cidade. Não só a favela como um gerador de mão de obra, mas como um gerador de produtos e serviços e soluções para o restante da cidade”, explica Carla Teixeira, do Sebrae do Rio de Janeiro.

Os empresários investiram R$ 25 mil para construir o sobrado de três quartos com capacidade para seis hóspedes cada um, num dos pontos mais altos da favela. Na parte de cima, foi construída uma varanda com uma bela vista para o mar.

“Quando o turista chega na laje, ele olha esse marzão, e fala: Meu Deus! Estou no paraíso! Então, pra gente, é muito bom”, comenta Cristiane.
No estabelecimento, quase tudo é reaproveitado. O telhado foi feito de caixa de leite, a manta no sofá usa restos de jeans, a parede é de garrafa pet e, na decoração, pedaços de revistas velhas. O ambiente se inspira em cenas do dia a dia da própria favela. As roupas penduradas nas casas, por exemplo, serviram de modelo para enfeites no teto.

Os empresários também fizeram cursos de gestão e hoje conhecem bem as contas do negócio. “Quando a gente construiu, começou o negócio, a gente não tinha muito organização, de hóspede, de eventos, de passeios. Eles fizeram aquela gestão de negócios dando toda essa logística pra gente”, explica Medina.

O hotel cobra diária de R$ 35 na baixa temporada e de R$ 50 na alta temporada, e oferece café da manhã com pão, frutas e sucos. Cerca de 80% dos turistas são estrangeiros.

Joana Sisternas veio da Espanha para conhecer a favela do Rio. “Eu acho que é o mais interessante desse trabalhão, romper com o preconceito”, diz.

A empresa também aprendeu a ganhar dinheiro com outros negócios. Os empresários vendem camisetas do hotel em embalagem pet, por R$ 30, e organizam passeios com os turistas.

O faturamento do hotel ainda é pequeno – R$ 4 mil por mês. Mas os empresários apostam que o movimento vai disparar nos próximos anos.

“Vai faltar espaço no Rio de Janeiro para receber todo mundo, nos jogos olímpicos, na Copa do Mundo, então, a gente está ampliando, estamos construindo outro hostel no momento para receber estudante, fazer intercâmbio, porque a gente sabe que está muito caro o Rio de Janeiro”, fala Medina.

Nas favelas pacificadas do Rio de Janeiro o programa do Sebrae já alavancou negócios de mais de 15 mil pequenos empreendedores como Vitor e Cristiane. Eles mostram que é possível ter aqui um ambiente limpo de lazer e negócio, capaz de atrair gente do mundo inteiro.

“A gente vai continuar procurando as vocações de cada território, se é o turismo, se é a gastronomia, o comércio, a cultura, e como é que a gente pode potencializar essa vocação para que esses empreendimentos de favela tenham mais chances de mercado”, diz Carla Teixeira.


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