O trabalho da fábrica é artesanal. Como um quebra cabeça da economia, o desafio é encaixar as peças para sobrar o mínimo de tecido. “Aqui, nós aproveitamos o máximo o tecido”, diz Tavares, que explica que primeiros são riscadas as peças maiores e depois, nos vãos menores, encaixam outras peças pequenas.
A costura é terceirizada. Na fábrica de Tavares, são feitos só pequenos reparos, a colocação dos olhos, focinho, bigode, de acordo com normas do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). “Não pode ter nada que machuque uma criança, tudo tem que ser com segurança. No nosso ursinho, o lacinho é costurado e não pode ter mais do que trinta centímetros para não enrolar no pescoço da criança”, diz a gerente de produção Gleice Brandão.
Para dar forma aos bichinhos de pelúcia, o enchimento é feito com uma fibra importada, que parecem flocos de neve. A escolha do material faz toda a diferença na qualidade do produto. É preciso ter “memória”, ou seja, que a fibra volte ao formato original depois de ser apertada. O material também não pode absorver muita água para que o bichinho de pelúcia possa ser lavado e não crie mofo.
O enchimento é feito por meio de uma máquina de encher bichinhos de pelúcia, que torna o trabalho bastante simples. O operador coloca o bichinho na abertura e a máquina injeta a fibra, com um compressor de ar, deixando o produto pronto em segundos.
A empresa de Tavares faz 420 modelos de pequenos a gigantes e, para fugir da concorrência dos importados, aposta em animais brasileiros. “O que eles têm? Ursinho? Eu vou fazer um tamanduá, vou fazer um mico”, diz Giovani Tavares.
O investimento para montar uma pequena fábrica de brinquedos de pelúcia é de R$ 40 mil. A empresa faz 14 mil bichos de pelúcia por mês e vende produtos a partir de R$ 8 no atacado. No total, a fábrica de Tavares tem mais de 800 clientes no país todo.
Em Sorocaba, interior de São Paulo, a empresa de Reinaldo Soares Filho produz 500 bonecas por hora. O empresário montou a fábrica de bonecas em 1997, com investimento de R$ 40 mil.
A produção das bonecas é feita como uma receita de bolo. Ingredientes como resinas e plastificantes são separados, pesados e levados à misturadeira, que transforma a mistura em um plástico líquido, do qual é feito a boneca. O preparado ganha pigmento e é despejado no molde. Depois, o plástico é aquecido, resfriado e se solidifica. Quando fica pronto, basta retirar peça por peça com um alicate.
A cabeça e o corpo são produzidos separadamente. Na cabeça, a pintura é feita usando um gabarito, recortado no olho. Os lábios são pintados e os olhos são finalizados até com os cílios. Usando uma máquina, os funcionários colocam o cabelo da boneca. À parte, o corpo é vestido e depois encaixado na cabeça, deixando a boneca pronta para ser embalada.
A briga para reduzir custos na fabricação é diária. As chamadas rebarbas, pedacinhos de plástico que sobram das peças, não vão para o lixo, são cortados, derretidos e usados novamente, podendo virar, por exemplo, um braço.
Para o presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos, Synésio da Costa, os brasileiros levam uma vantagem sobre o produto asiático: a qualidade. “A gente tem uma grande preocupação principalmente com metais pesados, que são contaminantes, com partes pontiagudas, partes pequenas e todos os brinquedos brasileiros são 100% testados ao amparo da norma de segurança e conferidos pelo sistema que o Inmetro implantou no Brasil”, diz.