Ação humanitária - Médicos Sem Franteiras - Trabalho do médico Ir:. Sérgio Cabral no Haiti
Colaboração dos IIr:. Orlando Perez Filho e Guilherme Cabral - HAITI - AS CRIANÇAS SÃO MAIS VULNERÁVEIS À CÓLERA!


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HAITI - AS CRIANÇAS SÃO MAIS VULNERÁVEIS À CÓLERA!

Sérgio Cabral

Publicada em 10/01/2011

Pediatra do centro de tratamento de cólera (CTC) de Sarthe, em Porto Príncipe, o brasileiro Sérgio Cabral explica as especificidades do tratamento da doença em crianças. As características fisiológicas das crianças pequenas as tornam mais frágeis à cólera.

Por que devemos prestar atenção especial às crianças?
Sérgio Cabral - Elas estão em crescimento. Por terem uma superfície corporal menor, o vibrião da cólera se instala no intestino mais rapidamente e a doença se propaga com maior velocidade. Se compararmos, uma mesma quantidade de vibriões terá um efeito muito mais grave em uma criança que em um adulto. Além disso, seu sistema imunológico não está totalmente desenvolvido, então elas são mais vulneráveis à cólera e têm mais dificuldade em combater a infecção.

Além disso, as crianças ainda não têm hábitos adequados de higiene, o que pode facilitar sua contaminação. Esse pode ser um fator adicional de vulnerabilidade, mas não é uma regra porque o comportamento dos adultos é bastante semelhante.

Vocês oferecem um tratamento específico para crianças?
Cabral - O tratamento é idêntico ao dos adultos. Oferecemos reidratação oral para os casos mais simples e por via intravenosa para os mais graves. A principal diferença reside na dose e no volume e velocidade de infusão do soro, que devem ser calculados de acordo com a idade, o estado nutricional e possíveis doenças associadas. Quando a doença é severa, a reidratação é complementada por um tratamento com antibióticos, administrado de acordo com o peso, para crianças com mais de um ano.

A equipe deve ter uma grande experiência em pediatria, porque a desidratação causa uma diminuição do volume de sangue nas veias, o que torna difícil puncionar uma veia para a infusão do soro em crianças. Às vezes, não é possível pegar uma veia no braço, então nós tentamos na mão, na perna e por fim na cabeça. Em última instância fazemos punção intraóssea. É uma operação delicada, mas que deve ser realizada rapidamente porque em crianças com desidratação severa o fator tempo é determinante devido ao risco de choque.

Como as crianças precisam de uma atenção especial e de uma equipe bem treinada, o tratamento é feito em uma área específica para pacientes pediátricos. O Centro de Tratamento de Cólera de Sarthe tem capacidade para 336 leitos e 72 deles são reservados à pediatria. Esse número varia porque nós estamos constantemente adaptando nossa resposta à evolução da epidemia.

Quais são os desafios específicos do tratamento para crianças?
Cabral - Primeiro há o problema das doenças associadas, como pneumonia e asma, entre outras que complicam o tratamento e deixam a criança ainda mais fraca. De imediato nós damos prioridade ao tratamento da cólera, que coloca a vida da criança em risco, e em seguida tratamos as outras doenças. Em casos de desnutrição, cujo tratamento não é inviável durante o tratamento da cólera, nós transferimos as crianças já recuperadas da infecção para centros de tratamento de MSF específicos para desnutrição.

Nós também lidamos com casos de crianças que não têm pais ou responsáveis legais. Há crianças que chegam sozinhas, seja porque seus pais também estão doentes, seja porque eles – os pais – têm outras crianças para serem cuidadas em casa. Algumas crianças são abandonadas porque a cólera ainda assusta as pessoas. Uma vez que elas se recuperam, os assistentes sociais assumem o caso. Mas graças às atividades de informação e sensibilização, situações como essas estão se tornando raras.

Desde o início da epidemia, em meados de outubro de 2010, as equipes de MSF trataram 84.500 pacientes em cerca de 50 centros e unidades de tratamento de cólera pelo país. Esse número representa 57% do total de pessoas afetadas pela cólera, de acordo com os últimos números divulgados pelo Ministério da Saúde do Haiti, que falam em 147.787 pacientes e mais de 3.300 mortos.

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